Peguei para ler, quando do lançamento, o livro FORA
DE MIM, de Martha Medeiros, me
perguntei quase que imediatamente: será que todos no mundo têm um caso de amor
que acontece enorme, preenchendo espaços há muito tempo vazios, mas que a gente
tem certeza, desde o primeiro momento, que não vai ser para sempre, e que vai
doer, machucar, mas que não conseguiremos dar um passo para trás, que vamos entrar na história entre o espanto
que é apaixonar-se, e a tristeza por ter o conhecimento prévio de que ele, o
tão esperado e desejado amor que vai virar a nossa vida do avesso tem prazo de
validade?
Desde as primeiras linhas do texto eu pensei: ela roubou a
minha história. Segui lendo o que eu
mesma gostaria (deveria?), de ter escrito, tivesse eu o talento dela. É um
curto caso de amor intenso, durou dois, valeu por uma vida. Junto com ela por
135 páginas, reli um período de minha própria vida, da minha paixão.
Dizem que Amor é universal, todos, em algum momento da vida
se depararão com ele. E sentirão, e viverão as mesmas etapas: aquela alegria que quase dá vontade
de gritar, ou de cantar alto na rua, de partilhar com os passantes, abordá-los
para dizer: ei! olhe para a minha vida, eu estou apaixonada, estou amando, sou
amada!!!
Não acredito nisso.
Acho que existem pessoas que entram e saem desta vida com quase tudo morno, não
querem e não se permitem nunca a experiência de queimar a língua, de rasgar a
alma. Escolhem o mais fácil, o menos doloroso. Eu garanto, e ouso dizer que a
autora do livro também, não gostaria de chegar aos cinquenta, lá naquela hora
em que sabemos que a jornada está se
aproximando do fim, ainda que restem
mais vinte, trinta anos, sem a certeza de que vivi tudo. E que se a vida
terminasse ali, naquela hora, levaria a certeza de que tive o melhor e o pior de
uma paixão, e que cada dia, cada pranto, cada madrugada, cada riso, tudo valeu.
No livro ela começa contando o melancólico e intenso e
silencioso final, diz que sabia que entrava numa viagem sem destino, e que não
sabia que doeria tanto. Ela diz que “ninguém pode saber um amor, entender um
amor”, mas eu acredito que sabemos sim, mas que isto não nos pararia. Quem quer
a vida, entra nela de cabeça, e penso nisso quando ela afirma que viveu dois
anos em “constante estado de paixão e luto”, sabendo que em algum momento,
aquele avassalamento passaria, e neste momento começaria outra jornada: a de
levantar-se para seguir com a vida.
No livro há outros personagens sobre os quais ela diz pouco,
e tem que ser assim. O tempo daquela paixão, daquele amor excluiu o resto do
mundo. Tudo o mais teve que esperar, tudo diminuiu de tamanho: amigos, filhos.
Era a hora daquele amor, de antemão descosturado. Não cabia mais ninguém.
E a retomada da vida é lenta, claudicante, muitas vezes com a
estranha sensação de que não vai dar, de que nunca mais vai dar. A autora
brilha, como brilha em cada crônica publicada aos domingos. Leio tudo o que ela
escreve, sou muito fã de Martha Medeiros, mas neste FORA DE MIM, a verdade é
que ela esteve dentro de mim, disse o que eu gostaria de ter dito, e não creio
que eu seja a única leitora que sentiu ou se sentirá assim ao lê-la.
Por que escrevi hoje, e não quando o livro saiu? Porque li
avidamente da primeira vez, aluguei muitas vezes, afinal o trabalho é este,
aqui, alugam-se livros. Mas ele retornou ontem, e foi tudo como da primeira
vez: a mesma empatia, o mesmo assombro. Como ela sabe tanto de mim?
Fica o convite para as três pessoas que lêem o blog, ou para
os que visitam nossa página do facebook. Não percam. Pode ser também a sua
história.
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