quinta-feira, 6 de setembro de 2012

COMPLETAMENTE DENTRO DE MIM




Peguei para ler, quando do lançamento,  o livro FORA DE MIM, de Martha Medeiros, me perguntei quase que imediatamente: será que todos no mundo têm um caso de amor que acontece enorme, preenchendo espaços há muito tempo vazios, mas que a gente tem certeza, desde o primeiro momento, que não vai ser para sempre, e que vai doer, machucar, mas que não conseguiremos dar um passo para trás,  que vamos entrar na história entre o espanto que é apaixonar-se, e a tristeza por ter o conhecimento prévio de que ele, o tão esperado e desejado amor que vai virar a nossa vida do avesso tem prazo de validade?
Desde as primeiras linhas do texto eu pensei: ela roubou a minha história.  Segui lendo o que eu mesma gostaria (deveria?), de ter escrito, tivesse eu o talento dela. É um curto caso de amor intenso, durou dois, valeu por uma vida. Junto com ela por 135 páginas, reli um período de minha própria vida, da minha paixão.
Dizem que Amor é universal, todos, em algum momento da vida se depararão com ele. E sentirão, e viverão as  mesmas etapas: aquela alegria que quase dá vontade de gritar, ou de cantar alto na rua, de partilhar com os passantes, abordá-los para dizer: ei! olhe para a minha vida, eu estou apaixonada, estou amando, sou amada!!!
 Não acredito nisso. Acho que existem pessoas que entram e saem desta vida com quase tudo morno, não querem e não se permitem nunca a experiência de queimar a língua, de rasgar a alma. Escolhem o mais fácil, o menos doloroso. Eu garanto, e ouso dizer que a autora do livro também, não gostaria de chegar aos cinquenta, lá naquela hora em que sabemos  que a jornada está se aproximando do fim,  ainda que restem mais vinte, trinta anos, sem a certeza de que vivi tudo. E que se a vida terminasse ali, naquela hora, levaria a certeza de que tive o melhor e o pior de uma paixão, e que cada dia, cada pranto, cada madrugada, cada riso, tudo valeu.
No livro ela começa contando o melancólico e intenso e silencioso final, diz que sabia que entrava numa viagem sem destino, e que não sabia que doeria tanto. Ela diz que “ninguém pode saber um amor, entender um amor”, mas eu acredito que sabemos sim, mas que isto não nos pararia. Quem quer a vida, entra nela de cabeça, e penso nisso quando ela afirma que viveu dois anos em “constante estado de paixão e luto”, sabendo que em algum momento, aquele avassalamento passaria, e neste momento começaria outra jornada: a de levantar-se para seguir com a vida.
No livro há outros personagens sobre os quais ela diz pouco, e tem que ser assim. O tempo daquela paixão, daquele amor excluiu o resto do mundo. Tudo o mais teve que esperar, tudo diminuiu de tamanho: amigos, filhos. Era a hora daquele amor, de antemão descosturado. Não cabia mais ninguém.
E a retomada da vida é lenta, claudicante, muitas vezes com a estranha sensação de que não vai dar, de que nunca mais vai dar. A autora brilha, como brilha em cada crônica publicada aos domingos. Leio tudo o que ela escreve, sou muito fã de Martha Medeiros, mas neste FORA DE MIM, a verdade é que ela esteve dentro de mim, disse o que eu gostaria de ter dito, e não creio que eu seja a única leitora que sentiu ou se sentirá assim ao lê-la.
Por que escrevi hoje, e não quando o livro saiu? Porque li avidamente da primeira vez, aluguei muitas vezes, afinal o trabalho é este, aqui, alugam-se livros. Mas ele retornou ontem, e foi tudo como da primeira vez: a mesma empatia, o mesmo assombro. Como ela sabe tanto de mim?
Fica o convite para as três pessoas que lêem o blog, ou para os que visitam nossa página do facebook. Não percam. Pode ser também a sua história.

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