quinta-feira, 30 de agosto de 2012

FACA AFIADA - Bartolomeu Campos Queirós

Trabalhar com livros deveria, primeiramente , fazer de mim alguém mais antenada com os bastidores da Literatura, mas não é o caso. Eu deveria saber mais deste autor, de seu jeito, da forma como criava, mas não foi o caso. Conhecia a obra, mas sabia bem pouco do autor.
Leio compulsivamente, e leio de tudo. De alguns livros gosto tanto que fico triste quando vejo que vão acabar, e os economizo; outros, leio porque faz parte também da função ao locá-los. Não consegui, nestes mais de 20 anos entre os livros não opinar até mesmo jogando contra mim. Muitos associados apreciam imensamente um autor, e lá vou eu, com a minha boca grande, e meto o pau no pobre dizendo do tanto que é raso, do tanto que ele não disse nada, reclamo dos romances melosos, mas numa idade aí, há uns séculos atrás, eu já devo ter gostado. Comecei a vida lendo “Memórias de um Burro” da Condessa de Ségur, foi este, em minha memória, o primeiro livro que li, mas daí para frente devorei tudo o que me caía nas mãos, trocava qualquer presente por um livro.
A leitura para mim continua sendo para me encantar ou para eu reclamar. Este me encantou.
No início do meu segundo casamento, meu marido vinha para casa com dez, quinze livros de uma vez eu achava que finalmente tinha encontrado, de verdade, o príncipe encantado. Imagina! Tudo o que eu queria. E devo a ele a abertura desta Locadora. O casamento virou uma boa amizade, mas sempre vou ter de agradecer a força que veio dele e que me trouxe até aqui. Obrigada você.
Mas toda esta falação vem da necessidade de dizer sobre uma matéria lida no sábado, dia 18 no Prosa, do Jornal O Globo: José Castello escreveu sobre Bartolomeu Campos Queirós, e eu encontrei o texto que eu precisava para dizer sobre um livro infantil do autor: FACA AFIADA. Fazia tempos que eu queria escrever sobre ele, mas precisei de Castello para entender melhor de que maneira o autor chegara a escrita do livro.
Deus, como ele escreve bonito! A escrita é sensível, poética, perfeita e dura. Não a li, embora ela seja, como uma história para crianças. Conta de uma família onde encontramos pobreza, mas proximidade, e aparentemente amor, cuidado, compreensão, mas na verdade chegamos a um rito de passagem, uma criança entrando bruscamente no mundo dos adultos, onde as coisas nem sempre são o que parecem ser. A quebra da imagem de perfeição dos pais, apesar da pobreza. A história corta, fere, dói. E transcrevo aqui o final do texto de Castello, pedindo desculpas por copiá-lo assim “ipsis litteris”, mas eu não saberia, nem no meu sonho de grandeza mais absurdo fazê-lo pelas minhas próprias palavras: - “Via Bartolomeu a escrita como uma rasteira que o escritor aplica ao leitor. Você acha que sabe isso e aquilo, acha que pensa aquilo e aquilo outro. Mas, ao ler uma ficção, ou um poema, seu mundo despenca”. Esta é a exata sensação que se tem ao ler FACA AFIADA, mas eu o indico, maravilhada, a todos aqueles que não perderiam por nada uma bela escrita numa história onde o final nos deixa tontos, estupefatos. Essa é a prova maior de que ele atingiu exatamente o que pregava: “Nosso real e, muitas vezes mais fantástico que a fantasia”.
Bartolomeu Campos Queirós faleceu em janeiro de 2012, aos 67 anos, e eu particularmente, sentirei falta de sua escrita.

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