domingo, 18 de outubro de 2009

João Ubaldo Ribeiro domingo 18/10/2009


Acabo de ler a crônica do João Ubaldo no Globo, e mais uma vez fico aqui morrendo de inveja por não saber escrever como ele, e como outros tantos. Ele traduziu o meu sentimento, e colocou num texto tudo o que eu gostaria de dizer sobre o que ele chama de "máquinas de ler livros", citando o "Kindle".

Como alguém que ama livros, ama ler, e por isso mesmo vem há 18 anos resistindo como dona de uma Locadora de livros, acho também bastante estranha a conversa de que essa inovação é incrível. Não sei, mas o que me parece realmente incrível é pegar o livro na mão, sentir a textura das páginas, olha a capa e ficar ansiosa para abri-lo e começar a viagem. Gosto do cheiro deles. Velhos ou novos o cheiro dos livros faz as vezes de afrodisíaco. Gosto de entrar nas livrarias, nos sebos e folheá-los, ler as orelhas, gosto do peso, do formato, fico assustada quando penso que a ideia é acabar com o livro físico.

Como diz Ubaldo: até aqui, para lermos "precisávamos no máximo de uns óculos" , eis que o tal progresso nos apresenta um aparelhinho cujo custo, pelo menos a princípio, (e este princípio pode demorar) será apenas para alguns, quando hoje "basta apenas saber ler".

Trabalhando há tanto tempo numa locadora de livros, sei das dificuldades. Não digo que o brasileiro não gosta de ler, ele apenas não tem o hábito, mas foi, e ainda é para aqueles que gostam, e quem gosta de ler, gosta mesmo, e para aqueles que por vezes não podem comprar todos os livros que desejam, que eu achei que deveria abrir um negócio, onde eu amaria trabalhar, e onde as pessoas pudessem ter acesso a livros novos (as bibliotecas nem sempre, ou quase nunca têm os lançamentos), e antigos por um valor que estivesse ao alcance delas. E eu juro, para algumas pessoas, mesmo dessa maneira, por vezes, é um sacrifício, e elas mantém o serviço porque gostam muuuiiito de ler. O aparelhinho certamente não estaria ao alcance delas.

Sabemos que esta mudança não acontecerá da noite para o dia, mas, e ainda lembrando da crônica, João Ubaldo nos diz desse novo tempo de se trabalhar em casa que a princípio parece tão confortável, mas que nos tira o prazer de conhecer novas gentes, de tocar nas pessoas. O "progresso" tem tornado mais escasso o contato humano. Hoje estamos mesmo cada vez mais ligados às redes de relacionamento, webcans e MSN, e agora eis que nos chega mais uma novidade: ler numa maquininha. Talvez eu seja realmente uma senhorinha retrógrada e indignada, mas estou feliz porque percebo que estou em ótima companhia.

Como comecei dizendo lá em cima: queria muito escrever bem como ele, mas não foi nesta encarnação; daí, sugiro que procurem o jornal deste domingo 18/10/09, não importa se você leu isto hoje, ou daqui a muitos dias, a crônica, para um bom leitor, é imperdível. Até amanhã.

Um comentário:

  1. Deixe de modéstia, escreve e muito bem! Passou realmente a paixão que você tem pelo livros.

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