quinta-feira, 22 de outubro de 2009

FERNANDO PESSOA


FERNANDO ANTONIO NOGUEIRA PESSOA. Hoje achei que deveria dizer alguma coisa sobre este poeta português que tem a capacidade incrível de metamorfosear-se em outros tantos. A ânsia de pluralidade encontrada em todos os artistas, escritores e poetas de seu tempo, me parece maior em Pessoa. Ele precisou afastar-se de seu próprio "eu", e mergulhou em outros tantos "eus" para, talvez, entender melhor o que se passava à sua volta.
Cada um de seus outros "eus" via as coisas à sua própria maneira, aumentando dessa forma sua capacidade de consciência do mundo, mas, quando olho de um outro ângulo, e a partir das palavras do próprio poeta o que percebo é que ainda criança o poeta encontrou uma forma de jamais estar sozinho : "Desde criança tive tendência para criar em meu torno um mundo fictício de amigos e conhecidos que nunca existiram. Não sei se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos". Talvez esta tenha sido a sua maneira de achar, não sua outra metade, como alguns já devem ter lido no Banquete - Platão, mas suas muitas metades, e cada uma delas com a capacidade de torná-lo inteiro.
E vou transcrever abaixo uma poesia encontrada em suas OBRAS COMPLETAS que mostra que Pessoa precisou repartir-se para unificar-se, para buscar respostas, para formular perguntas, para conhecer-se, para caminhar na fusão do eu com o mundo. E ele nos mostrou sua grandeza, clareia ainda hoje nossos caminhos e embeleza nossas existências, transformando-nos de um ou de outro modo, à partir de sua absoluta capacidade de transformar-se. O nome da poesia?

EROS E PSIQUE
Conta a lenda que dormia
Uma princesa encantada
A uem só despertaria
Um infante que viria
De além do muro da estrada

Ele tinha que, tentado,
vencer o mal e o bem
Antes que, já libertado
Deixasse o caminho errado
Por o que a Princesa vem

A Princesa adormecida
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida
verde, uma grinalda de hera.

longe o Infante, esforçado
Sem saber que intuito tem,
rompe o caminho fadado.
Ele dela ignorado
Ela para ele é ninguém

Mas cada um cumpre o Destino -
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro
E, vencendo estrada e muro
Chega onde em sono ela mora

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra a hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.







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