quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Dizendo um pouco sobre livros


Vez em quando, um livro retorna à Locadora e percebo que ele esteve fora por muito tempo. E quem me conhece sabe como eu sinto saudade de livro daí, quando percebo lá estou eu, relendo trechos, lembrando da história. Algumas vezes o levo para casa e começo de verdade a relê-lo, mas atualmente isto não é muito fácil, afinal, à minha direita há sempre pelo menos mais uns 20 novinhos em folha precisando, urgentemente, da minha atenção e aí vem a culpa, releio o livro rapidamente, ou fico apenas com alguns trechos dos quais gostei mais. Hoje, depois de muito tempo, uns meses, penso, eis que retornou “A Descoberta do Mundo” de Clarice Lispector.
Fiz o que fazemos sempre, passei álcool na capa para guardá-lo, mas não resisti, e lá fui eu: li uma crônica, outra, e já estava quase querendo carregá-lo comigo quando encontrei uma bem pequenininha... linda demais, e resolvi então colocá-la aqui para que você, alguém a leia comigo.
ENIGMA
            Ela estava vestida de uniforme listrado de empregada, mas falava como dona-de-casa. Viu-me subir as escadas cheia de embrulhos e parando para sentar nos degraus – os dois elevadores estavam enguiçados. Ela morava no quinto andar, eu no sétimo. Subiu comigo segurando alguns dos meus embrulhos numa das mãos, e na outra o leite que comprara. Quando chegou ao quinto andar, botou o leite em casa dela entrando pela porta de serviço, depois fez questão de segurar meus embrulhos e de subir comigo até o sétimo.
Que mistério era esse: falava como dona-de-casa, seu rosto era o de dona-de-casa, e no entanto estava uniformizada. Sabia do incêndio que eu sofrera, imaginava a dor que eu sentira, e disse: mais vale a pena sentir dor do que não sentir nada.
- tem pessoas – acrescentou – que nunca ficam nem deprimidas, e não sabem o que perdem.
            Explicou-me, logo a mim, que a depressão ensina muito.
E - juro – acrescentou o seguinte: “A vida tem que ter um aguilhão, senão a pessoa não vive.” E ela usou a palavra aguilhão, de que eu gosto. 

Um comentário:

  1. é sempre descobrimos, ou sempre passa alguem nas nossas vidas para nos ensinar algo.

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