Há romances que são lançados, mas creio que poucas pessoas
tomam conhecimento, e eles desaparecem das prateleiras, e infelizmente um livro
maravilhosos passa e quase ninguém fica sabendo sobre ele. E este foi, para
mim, o caso do livro citado acima. Nunca ouvi ninguém comentando sobre ele, o
que é uma grande pena.
A história gira em torno de um homem que durante a maior
parte de sua vida preocupou-se apenas em satisfazer seus próprios prazeres. A
natureza fez dele um homem bonito e sedutor, mas para ele a aparência serve
apenas para atender à sua própria demanda por sexo, por drogas e por tudo
aquilo que preencha o enorme vazio que é a sua vida, até que numa sexta-feira,
ao voltar mais uma vez bêbado e drogado de uma noite na esbórnia, perde a
direção de seu carro, e como ele mesmo nos diz: “Os acidentes ocorrem, muitas
vezes violentos, como o amor.”
Esta é a primeira frase do livro e o começo da história de
nosso personagem, que depois de ter sobrevivido ao acidente, onde tem muito de
seu corpo queimado passando então a sofrer “as torturas dos condenados, transformado
numa figura grotesca, digna de pena.”
Passa a viver então no hospital onde foi socorrido., e tudo o
que espera é que haja um momento de poder sair dali, ainda que nem saiba de
verdade para onde, e possa então acabar com o que restou de seu corpo. E é
então que aparece Marianne Engel, uma artista
plástica cuja especialidade são
as esculturas de gárgulas. Ela vive na ala psiquiátrica do hospital e que diz
conhecê-lo de outras vidas. Conta para
ele que foram amantes na Alemanha medieval, e que nesta época ele era um mercenário
e ela uma escriba no mosteiro de Engelthal. Afirma que foi uma das primeiras
tradutoras de “Inferno”, parte da
obra de Dante Alighieri, “A Divina
Comédia”. Ela o informa que esta é a terceira vez que ele se queima de
forma grave.
Ele a vê inicialmente apenas como uma louca que o distrai de
suas muitas agonias, mas ela segue contando outras histórias, dizendo sobre um
amor imortal entre os dois, e como uma Sherazade ela relembra para ele os
lugares onde viveram até que a descrença deste homem começa a desmoronar, e ele
percebe que não dá mais para fingir que as histórias não o atingem, tornando o
que antes parecia impossível, difícil de ser ignorado. Ela o faz desejar tempo
para saber até aonde vai a verdade do que diz.
Este foi o primeiro livro do autor, Andrew Davidson, fruto de
sete anos de pesquisa, e ele consegue associar lugares tão completamente diferentes
em tempo e espaço, com uma narrativa emocional sobre os muitos infernos
dantescos existentes na história da humanidade.
Se você gosta de romances profundos, bem escritos, e que o
pegarão desde a primeira linha, não pode deixar de procurar por este livro.
guarda para quando eu acabar Ulisses
ResponderExcluirbjs