quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A GÁRGULA – Andrew Davidson



Há romances que são lançados, mas creio que poucas pessoas tomam conhecimento, e eles desaparecem das prateleiras, e infelizmente um livro maravilhosos passa e quase ninguém fica sabendo sobre ele. E este foi, para mim, o caso do livro citado acima. Nunca ouvi ninguém comentando sobre ele, o que é uma grande pena.
A história gira em torno de um homem que durante a maior parte de sua vida preocupou-se apenas em satisfazer seus próprios prazeres. A natureza fez dele um homem bonito e sedutor, mas para ele a aparência serve apenas para atender à sua própria demanda por sexo, por drogas e por tudo aquilo que preencha o enorme vazio que é a sua vida, até que numa sexta-feira, ao voltar mais uma vez bêbado e drogado de uma noite na esbórnia, perde a direção de seu carro, e como ele mesmo nos diz: “Os acidentes ocorrem, muitas vezes violentos, como o amor.”
Esta é a primeira frase do livro e o começo da história de nosso personagem, que depois de ter sobrevivido ao acidente, onde tem muito de seu corpo queimado passando então a sofrer “as torturas dos condenados, transformado numa figura grotesca, digna de pena.”
Passa a viver então no hospital onde foi socorrido., e tudo o que espera é que haja um momento de poder sair dali, ainda que nem saiba de verdade para onde, e possa então acabar com o que restou de seu corpo. E é então que aparece Marianne Engel, uma artista  plástica cuja especialidade  são as esculturas de gárgulas. Ela vive na ala psiquiátrica do hospital e que diz conhecê-lo de outras vidas.  Conta para ele que foram amantes na Alemanha medieval, e que nesta época ele era um mercenário e ela uma escriba no mosteiro de Engelthal. Afirma que foi uma das primeiras tradutoras de “Inferno”, parte da obra de Dante Alighieri, “A Divina Comédia”. Ela o informa que esta é a terceira vez que ele se queima de forma grave.
Ele a vê inicialmente apenas como uma louca que o distrai de suas muitas agonias, mas ela segue contando outras histórias, dizendo sobre um amor imortal entre os dois, e como uma Sherazade ela relembra para ele os lugares onde viveram até que a descrença deste homem começa a desmoronar, e ele percebe que não dá mais para fingir que as histórias não o atingem, tornando o que antes parecia impossível, difícil de ser ignorado. Ela o faz desejar tempo para saber até aonde vai a verdade do que diz.
Este foi o primeiro livro do autor, Andrew Davidson, fruto de sete anos de pesquisa, e ele consegue associar lugares tão completamente diferentes em tempo e espaço, com uma narrativa emocional sobre os muitos infernos dantescos existentes na história da humanidade.
Se você gosta de romances profundos, bem escritos, e que o pegarão desde a primeira linha, não pode deixar de procurar por este livro.

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